quinta-feira, 9 de julho de 2015

VII Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais

APOIO ICONOGRÁFICO DO TRABALHO SOBRE ENTERRO JUDAICO E CEMITÉRIOS JUDAICOS.

por José Roitberg - jornalista, pesquisador e membro da ABEC

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Túmulos Cemitério Israelita de Vila Rosali, no Rio de Janeiro, mostram vários elementos tradicionais básicos. À direita temos no alto a Estrela de David com as letras Pei e Nun, inscritas, que significam em hebraico, Pó Nikbar (Aqui Jaz). Na última linha desta lápide e da maior parte dos túmulos judaicos antigos encontramos outro grupo de 5 letras, que podem ser separadas por pontos, ou não (como estas) que significam “Que sua alma faça parte da Corrente Eterna da Vida” e indica que este sepultamento foi pelos ritos ortodoxos.

Na lápide à esquerda vemos uma Estrela de David simples no alto, e na pedra principal as mãos na posição da “benção dos coanim” (dos sacerdotes do Primeiro e Segundo templos de Jerusalém), indicando que o falecido acreditava ser de uma família oriunda dos coanim. As letras Pei e Nun estão abaixo da imagem da das mãos.

 

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Detalhe de uma ala especificamente feminina em um cemitério judaico na Ucrânia onde todos os túmulos possuem detalhes diferentes, provavelmente ligados a um modismo local do século XVIII, mas todos possuem o castiçal de 5 velas, um castiçal apenas funeral e de luto judaico, atualmente em desuso, que remete aos 5 estados da alma judaica: Nefesh, Ruach, Neshamá, Iechidá e Chaiá. Se alguém quiser ter um entendimento mais completo destes cinco estados, temos um bom texto em inglês neste link.

 

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Lápide do século XVIII em cemitério na Criméia (ex-Ucrânia) traz, à direita um castiçal de três velas, indicando ser um túmulo feminino de mulher que acendia as velas do shabat, e consequentente praticava a religiosidade judaica e à esquerda, a flor de seis pétalas, típica dos túmulos judaicos em países árabes ou sob dominação islâmica quando a estrela de David e a candelabro de 7 velas (a Menorá) eram proibidos. Naquele momento histórico a Criméia pertencia ao Império Otomano.

 

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Túmulo judaico feminino na Alemanha, do século 19, traz a flor de três pétalas em formato moderno de estrela, numa configuração pouco usual, pouco documentada e cujo o significado para parte da comunidade judaica se perdeu. É pouco provável que a família Schwarz fosse oriunda de área muçulmana.

 

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Lápide do século 18, no cemitério da cidade de Klatovi, na República Tcheca, traz o cacho de uvas, símbolo já esquecido de um Israel idealizado antes da existência do sionismo e do próprio estado.

 

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Uma jarra nesta lápide do início do século XIX na Alemanha indica que o falecido acreditava ser descende da tribo de Levi, dos levitas, funcionários e operários do Primeiro e Segundo templos de Jerusalém. As pinhas, não remetem a significado judaico conhecido devem ser ou modismo de época ou algo pessoal relacionado com a vida do falecido.

 

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Neste cemitério da Inglaterra do século XVII temos lápides típicas que foram utilizadas ao longo da Idade Média e pouco depois com um pequeno relato da vida do falecido. Os dois túmulos da esquerda com jarras sendo despejadas são túmulos de homens levitas e o da direita, de homem coen. Nestes túmulos não vemos as letras Pei e Nun, e sim Pei e Tet, que significam “Aqui foi escondido ou encoberto” o falecido, no sentido de estar fora das vistas das pessoas. É um modismo antigo e não mais utilizado.

 

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Um shofar, ou instrumento de sopro litúrgico feito com um chifre de carneiro, nos diz que o falecido era quem o tocava nas cerimônias religiosas. Neste caso, o picador de pedra não sabia como fazer o instrumento e o picou parecendo um cachimbo.

 

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O livro aberto indica ser um estudioso da Torá e das leis judaicas e a faca nos informa que ele era o ‘shoichet’, o judeu responsável por abater animais e aves para alimentação de acordo com as leis de higiene judaicas. Um shoichet poderia ser também um açougueiro ou não. Era comum nas pequena aldeias antigas que as mulheres comprassem suas galinhas vivas e o shoichet passasse nas casas das pessoas para realizar o abate de forma profissional se sustentando com as pequenas quantias obtidas.

 

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Como acima, temos o livro aberto junto a duas pequenas facas de formato pouco usual. Elas eram os instrumentos do ‘moel’ o responsável por fazer a circuncisão nos meninos no oitavo dia de vida.

 

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Duas lápides de rabinos em cemitério do século XVIII na Alemanha nos mostram livros em duas configurações bem distintas. O da direita é um coen, fazendo o sinal da benção dos sacerdotes e o da esquerda, com um leão é um membro da tribo de Judah.

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Leões podem vir nas mais diversas configurações e há detalhes que podem complicar o entendimento. Temos a jarra, que indica o falecido ser um Levi, então ele não pode ser Levi e Judah ao mesmo tempo. Para dificultar um pouco as coisas, houve momentos históricos em que as pessoas atribuíam as figuras de animais às pessoas falecidas cujos nomes próprios, nas mais diversas línguas remetiam ao tal animal, o que parece ser este caso. O falecido, provavelmente chamava-se Arie, Judah, Leib ou Loew.

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Os túmulos judaicos costumam ser modestos, mas você pode se deparar com artes grandes, caras e sofisticadas como este leão no Velho Cemitério Judaico de Praga. Abaixo, detalhes deste cemitério no antigo bairro judaico, que já foi cidade judaica de Josefov. Foram contadas 12.000 lápides amontoadas desta forma, mas estima-se que haja 100.000 sepultamentos no local em suas várias camadas de terra. A lápide mais antiga localizada é de 1439 e a última é de 1787. Chama-se originalmente “O Jardim Israelita”. A ‘lei judaica’ não permite que o cemitério seja escavado. Assim historiadores divergem com contas que variam de 5 a 12 camadas de sepultamentos.

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A imagem de um veado nos indica ser o sepultamento de alguém relacionado a tribo de Naftali. No caso de homens, poderia ser pessoas chamadas Zvi ou Hirsh, mas o buquê de flores com uma grande rosa virada para baixo além de uma flor menor ao lado nos indica ser um túmulo feminino.

 

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Uma coroa nos indica ser o túmulo de um rabino chefe de cidade, região ou mesmo de país. Incidentalmente também era ele quem tocava o shofar nas cerimônias religiosas onde isso era necessário. Apenas homens podem tocar tal instrumento.


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Como deixamos claro no artigo, não há regras escritas que padronizem túmulos judaicos. Na realidade, cada um faz o que quer. Esta coroa de rabino-chefe no túmulo de frau Mina Kohn, nos leva a imaginar ela ter sido esposa de um rabino-chefe. À direita o túmulo de um coen.

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Pássaros são utilizados em túmulos de moças possivelmente virgens, mas curiosamente são encontrados no Brasil em túmulos de prostitutas judias, das Polacas. É só uma inferência, imaginar que elas talvez tivessem mandado picar pássaros em seus túmulos esperando que no futuro, quando alguém os observa-se tivesse a certeza de que eram moças novas e virgens e não prostitutas. Mas não leve isso como fato, ok. Temos ainda dois castiçais com as velas de shabat partidas indicando uma morte prematura, ainda jovem.

 

tumulos com retratos grandes
Enquanto nos últimos 25 anos a interpretação dos rabinos brasileiros diz que não se pode colocar fotos nos túmulos, nos EUA e Rússia, uma nova técnica de impressão com ácido permite fotos enormes nas lápides.

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A liberdade para fazer a lápide como se quer pode ser ilustrada nesta foto de um cemitério judaico nos EUA, onde podemos ver vários dos elementos discutidos no artigo em uma tomada só.

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Exemplo de cemitério judaico, na Judeia, da época bíblica
em Beit Shearim, foto de Ronaldo Gomlevsky, 200

© 2015 - José Roitberg
ABEC - Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais

2 comentários:

Afonso Neto disse...

Ola meu amigo. Seu blog é sensacional. No canal do youtube ''Cemitério só tem túmulos de mulheres'' Lia Fernando, li seu comentário esclarecendo sobre o 'mistério' do Cemitério de Israelita de Inhaúma, e cheguei no blog.
.
Mas gostaria de ler os 'Há várias fotos recentes' do seu blog, que Vc relata
.
Me passe o link, por favor : afonsomfneto@hotmail.com

Pastor Afonso disse...

Ola meu amigo. Seu blog é sensacional.
.
No canal do youtube ''Cemitério só tem túmulos de mulheres'' de Lia Fernando, li seu comentário esclarecendo sobre o 'mistério' do Cemitério de Israelita de Inhaúma, e cheguei aqui no seu blog.
.
Mas gostaria de ler os 'Há várias fotos recentes Cemitério de Israelita de Inhaúma ' do seu blog, que Vc relata
.
Me passe o link, por favor : afonsomfneto@hotmail.com