sexta-feira, 31 de julho de 2015

Kadish em Português - A Oração dos Mortos

O kadish é conhecido pelos judeus como ‘oração dos mortos’, mas é uma declaração de fé, oração de louvor a Deus e confiança em Deus. É a principal oração judaica dita diariamente nos serviços religiosos nas sinagogas, pela manhã e a tarde, apenas se houver miniam, ou seja um quorum de dez homens judeus.

Há cinco versões de kadish proferidas em momentos diferentes da liturgia judaica. O kadish dos enlutados (kadish yatom), dentro da ortodoxia judaica deverá ser pronunciado apenas por parentes da pessoa falecida. Na liturgia dos ramos liberais, o kadish yatom costuma ser pronunciado por todos os que estejam na sinagoga e o desejarem fazer em honra ao falecido.

Pela ortodoxia, um filho enlutado deverá recitar o kadish yatom pelos onze meses seguintes ao falecimento de seu pai ou sua mãe. A recitação pelo falecimento de um irmão, irmã, esposa, marido, filho ou filha é de apenas um mês. Também é recitado nos aniversários da morte.

Entre os liberais recita-se o kadish yatom para amigos e outros tipos de parentes. Frequentemente os liberais convocam amigos e conhecidos para a reza do final da tarde na sinagoga por uma semana. No shabat, os rabinos liberais costumam solicitar a todos que recitem o kadish yatom para os membros da congregação que faleceram durante a semana, citando-os nominalmente.

Ao se cobrir o túmulo com terra, ao final do enterro, os filhos recitam o kadish yatom estendido com um parágrafo que se refere a ressureição dos mortos e a restauração do Templo de Jerusalém (quando o Messias chegar).

É um costume individual dos judeus recitar o kadish para quem bem entenderem ao visitar túmulos nos cemitérios. Também é um costume em visitas aos cemitérios judaicos, e áreas judaicas de cemitérios públicos, antes do Dia do Perdão (Iom Kippur), que um grupo de homens judeus recite um kadish yatom ‘coletivo’ para todos os que estão sepultados no local.

O kadish é recitado em aramaico seguindo uma definição do Talmud de que apenas a leitura da Torá precisa ser feita em hebraico nas sinagogas. Todas as outras orações, canções e salmos podem ser ditas e lidas em qualquer língua, menos árabe.

O único ponto do Kadish Yatom que fala em morto se refere apenas a “todos os que partiram do mundo” de forma genérica.

Assim, mesmo os judeus que compreendem hebraico não necessariamente compreendem o kadish, daí, a imensa maioria o considerar como uma ‘oração dos mortos’ e recitá-la com tristeza e dor e não com alegria e júbilo. A tradução do kadish yatom para o português é a seguinte.

Que o Seu grande Nome seja exaltado e santificado no mundo que Ele criou conforme Sua vontade. Que Seu reinado durante nossas vidas e nossos dias e durante a vida de toda a Casa de Israel, rapidamente e em breve.

(A Congregação responde: 'Amen. Que Seu grande nome seja abençoado para sempre e eternamente').

Abençoado, louvado, glorificado, exaltado, enaltecido, honrado, elevado e elogiado seja o nome do Todo-Poderoso, pois dele emanam todas as bênçãos e louvores. Nosso guia e o que nos conforta, redentor por toda a eternidade.

(A Congregação responde: 'Abençoado Seja')

Para Israel e seus justos e por todos os que partiram do mundo de acordo com a vontade do Juiz.  Possam eles ter uma grande paz pela graça e caridade que eles provem dos céus.
(Amen)

Que os céus possam nos conceder uma grande paz e a vida para todos nós e Israel.
(Amen)

Aquele Que estabelece paz nas alturas, Que possa trazer a paz sobre nós e sobre todo Israel.

© 2015 José Roitberg - jornalista e pesquisador
ABEC - Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais

2 comentários:

Victor disse...

Por que não se pode recitar uma reza em árabe? Qual justificativa é dada no Talmud?

José Roitberg disse...

Não é dada justificativa. Apenas consta como definição. Podemos imaginar que poderia ser para não confundir judeus com árabes, ou para tentar evitar que árabes muçulmanos estivessem dentro da sinagoga. Mas isto é apenas uma opinião pessoal. As orações que os judeus fazem individualmente, em privado, e também seus pedidos individuais e pessoais a Deus podem ser feitos em árabe. O veto ao uso do árabe é apenas nas cerimônias em sinagogas e em público. Note que os judeus que foram expulsos da Península Ibérica falavam também o Ladino e os judeus-árabes do Norte da África falavam Hakitia, portanto, ambas línguas estavam autorizadas para as sinagogas, de acordo com o Talmud.