domingo, 30 de março de 2014

Clube dos Cabiras? Clube o quê mesmo?

O Rio Judeu Que o Povo Esqueceu

Como uma associação de jovens judeus que teve grande representatividade entre 1939 e 1955, com 2.000 sócios, some sem deixar rastros? Quem a frequentava com 20 anos de idade em 1955, hoje tem 78, portanto, há cabirenses quietos por aí. Alguns, certamente ativistas de outras instituições. Esperamos que este artigo os tire da zona de conforto e os permita trazer novas memórias e quem sabe, fotos, carteirinhas, estórias legais.

 

Definições equivocadas em livros anteriores

Quase tudo que abordamos nesta coluna parte dos erros publicados anteriormente pelos historiadores e tornados verdade através de sua replicação histórica em teses de mestrado e doutorado. Com o Clube dos Cabiras, não é diferente. O jornalista Henrique Weltmam, definiu na página 51 de seu livro "A História dos Judeus no Rio de Janeiro", que o Cabiras "surgiu em 1929 a partir de uma dissidência do Clube Juventude Israelita (Iuguend Bund)", criado em 1919 e terminado em 1929.

Esta é a história que recebemos e contamos até hoje: os jovens de esquerda teriam saído do ambiente sionista e foram cuidar de seus rumos e interesses. O ano de 1929 é até emblemático, mas estranho para isso. Além de termos crise econômica, é o ano dos grandes ataques contra judeus na Palestina, que aglutinaram a Comunidade.

Em seu livro "Paisagem Estrangeira", a professora e historiadora Fania Frydman situa o Cabiras na Rua Álvaro Alvim 21 (edifício Regina, existente até hoje), mas o clube, de fato ficava defronte, no número 24, onde há um prédio mais moderno, conforme consta em notas publicadas nos jornais chamando para eventos entre 1948 e 1955. Fania nos conta que em 1941 uma cisão do Cabiras formou o Grêmio Cadima (Avante) que se reunia no Hotel Elite. Quanto ao Cabiras, dá informação diferente da de Weltman. A origem teria sido um cisão de esquerda do Iidishe Iugend Haim (Grêmio Juventude Israelita). Mas este funcionou apenas entre 1928 e 1934 na rua Hadock Lobo 142. E nada mais havia sobre os Cabiras. Ambos clubes "Iugend" eram iidishistas e segundo sabemos, praticamente todos os iidishistas tinham uma alinhamento de esquerda.


Viu outras matérias e veio nos procurar

Eis que surge, o sr. David German, com seus 95 anos de idade e nos procura, por ter lido os primeiros artigos desta coluna. E David afirma: "Eu fundei o Cabiras, posso de contar tudo!" Nós o recebemos, juntamente com dra. Esther Libergot, química, ativista do clube no pós-guerra, e gravamos em vídeo o depoimento dos dois.

David se formou em odontologia e foi dentista por 60 anos. Inicialmente ele frequentava as atividades para jovens judeus na Bené Herzl, fundada em 1921, a instalada em 1929 na Rua Conselheiro Josino 14, há 50 metros de onde anos depois, em 1932 se inauguraria o Grande Templo Israelita. O prédio foi planejado pelos judeus sefaraditas para ser um Centro Judaico, com pequena sinagoga, salões, salas para reuniões e outras atividades.

Muitos "clubes" e instituições judaicas tiveram como endereço o número 14, inclusive a Federação das Sociedades Israelitas do Rio de Janeiro (atual FIERJ), de 1947.

David, que passou pela história da Comunidade Judaica dos anos 1930 até hoje, concorda que nossos historiadores "agiram politicamente e sectariamente" ao escrever suas versões do que deveria ser uma só história.

1939 e não 1929…

O Cabiras foi fundado em 30 de janeiro de 1939, dez anos depois da data aceita até hoje. Caso contrário, nosso querido David teria sido diretor aos 12 anos de idade, e teria hoje 115 anos...

O nome "Cabiras" é um dos mistérios comunitários. Seria uma corruptela de "guiborim (heróis em hebraico)", como pretendem uns? Como ficava na Bené Herzl teria algo a ver com uma região do norte da Turquia que leva este nome?

David German é categórico ao afirmar que ele e mais quatro amigos se juntaram e resolveram criar um clube judaico "porque naquela época, parece que não havia nenhum."

Havia a BIBSA - Biblioteca Sholem Aleichem, na Praça Onze, fundada sionista em 1915, mas já completamente comunista em 1939. E não era um clube para jovens. Os outros clubes, como vimos deixaram de existir anos antes.

Ao longo do século 19 e nos primeiros 60 anos do 20, o Rio de Janeiro teve centenas de clubes por afinidade em todo seu espectro social.

Os nomes sugeridos foram: Clube da Juventude Judaica Brasileira, Clube dos Judeus do Brasil, que David se lembre, além de outros. A escolha do nome ficou para a reunião seguinte, no voto. "Cheguei em casa e comecei a folhear a 'História da Literatura Universal', vi lá uma estória dos gregos com um asterisco. Fui lá e vi 'cabiras' em hebraico 'cabirim', poderosos, fortes etc. Cabiras... Bom, isso soa bem. Levei na reunião seguinte. Dei lá o nome do Clube dos Cabiras. Ah.. Pegou! É esse!" O nome foi mantido e foi um sucesso até o desaparecimento do clube entre 1955 e 1956.

Na verdade, os Cabiras gregos eram considerados como "o princípio de todas as coisas, o símbolo da geração", teriam dado origem aos deuses.

Pelo que David se recorda, além dele, fundaram o clube: David Lerner, Hoinef (não se recorda o primeiro nome), Marconi Nudelman e duas moças das quais também não lembra o nome. Todos oriundos do Colédio Sholem Aleichem. David German era o mais velho entre eles e sempre gostou das atividades sociais e teatro. Foi produtor e diretor do grupo de teatro do clube. Foram várias peças e a que o marcou foi "Jankel Boile" em 5 atos falados em íidiche só pelos jovens amadores do Cabiras: "falavam, mas não sabiam o que estavam falando e cantando. Havia dança de camponeses, uma peça mesmo. Alguns tinham uma ideia do que era. Mas a plateia, formada pelos pais, entendia o que era dito," arremata David. Precisou de três meses de ensaios. As apresentações aconteciam em teatros alugados e não no salão da Bené Herzl. Normalmente as peças tinham apenas duas apresentações devido ao custo do aluguel dos teatros. Apenas duas peças foram produzidas em íidiche, as outras eram em português. Boa parte delas era teatro infantil.

cabiras web 1Elenco da peça “Não Consultes Médico”, encenada pelo grupo de teatro do Cabiras. O elenco está sentado e da direita para a esquerda temos a diretoria dos anos iniciais: David German (com charuto), Max Goldkorn, Isaac Jaimovich, Abraão, Jaime Tiomno, Jaques Gutemberg e Marconi Nudelman. 

Como David Guerman era da direção do Cabiras e frequentava ativamente aquela região, ele pôde nos dar um testemunho precioso sobre a interação entre sefaraditas e ashkenazitas, separados por 50 metros, veja: "A parte da juventude, social, que estava no Bené Herzl não tinha nada a ver com as festividades judaicas. Ali era só dos sefaraditas, onde eles rezavam etc. O Clube dos Cabiras alugava a sede do Bené Herzl para as atividades dançantes, palestras, conferências e tudo mais em dias certos do mês."

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Planta do segundo piso da Rua Conselheiro Josino 14, Bené Herzl

A planta original deste prédio ainda existe sabemos que a sinagoga de uso diário ficava à esquerda de quem subia as escadas com apenas 15 metros quadrados. Oposta a ela, do outro lado da escada um espaço semelhante designado como "buffet". A pequena sinagoga se justifica, pois as outras sinagogas sefaraditas estavam em plena atividade em várias partes da cidade. A Shel Guemilut, naquele momento histórico ficava na rua Francisco Muratori 33 (de 1935 a 1949 - o prédio ainda existe) a cerca de 15 minutos de caminhada da Bené Herzl.

O salão de festas possuía 155 metros quadrados com quatro colunas centrais quatro pequenas janelas laterais e três grandes janelas frontais com 2 metros de largura para uma. É neste salão que foram dadas dezenas e dezenas de palestras e conferências. É neste espaço que aconteceram vários bailes por ano até 1947 e onde vários casais judeus se conheceram e se beijaram pela primeira vez. Nas festas judaicas, segundo David, se colocava cadeiras no salão e ele se transformava todo em sinagoga. A função de um clube de jovens judeus de oferecer um local onde casais judeus pudessem se formar, foi plenamente satisfeita pelo Cabiras.

cabiras web 5Rua Conselheiro Josino 14, Bené Herzl alguns dias antes de sua inauguração

Os jovens judeus foram se associando. O Cabiras chegou a ter 2.000 sócios jovens judeus que iam lá para dançar e para festividades. As palestras literárias eram de alto nível, com jornalistas, escritores, senadores, palestrantes de várias partes do mundo, "mas ia pouca gente." As festas mais importantes eram de reveillon e carnaval, sempre lotadas. Paralelamente havia o Clube das Damas Israelitas (sefaradi, criado em 1929 no número 14, também) que fazia o mesmo tipo de festas e muitas delas, beneficentes. "Eu acredito que naquela época o Cabiras era o único clube onde só tinha jovens judeus", disse David. Era comum que os jovens participassem dos bailes em vários clubes.

Inicialmente as festas eram todas no número 14, mas rapidamente os bailes principais de Carnaval precisaram de espaços maiores e o enorme salão do Botafogo, era alugado anualmente. Nos anos 1950 até mesmo o grandioso espaço do High Life seria usado para o carnaval dos Cabiras. O clube também promovia concursos de dança, e David venceu um deles com sua partner (parceira), Lygia Hazan, mãe de nosso Ronaldo Gomlevky e colunista da Menorah.

Cultura, dança, diversão e alienação

O clube foi criado nas vésperas da Segunda Guerra Mundial e era de se esperar que uma associação que reunisse este número enorme de judeus para a comunidade dos anos 1940, talvez quase todos os jovens que havia, tivesse um papel destacado durante a guerra, que suas palestras, pelo menos levassem a entender o que acontecia com os judeus, mas não foi o que aconteceu. Naquele momento a Comunidade judaica tinha tamanho semelhante ao atual. Mesmo nos dias de hoje, vemos as instituições culturais judaicas com suas fortes agendas de palestras dissociadas das ameaças aos judeus e ao Estado de Israel. São coisas que não se discutem, preferindo seus dirigentes, as amenidades da literatura, da poesia, da sociologia, da música e do teatro, coisa que os cabirenses fizeram até após a guerra.

Não há nos jornais notícias sobre o clube. Mas há dezenas de publicações de notas de divulgação de suas principais conferências, assim sabemos que enquanto os judeus eram trucidados na Europa Central, nosso jovens judeus recebiam muita literatura, música e teatro, e pouca política e situação mundial. Havia times de vôlei, basquete, ping-pong e outros esportes disputando campeonatos com outras quatro instituições judaicas.

Como historiador não me cabe julgar. Como jornalista me cabe. E nunca se sabe o que será encontrado pela frente. Então julgue você. Em 20 de dezembro de 1942, o Diário de Notícias em suas página 16, traz uma nota: "A festa esportiva do Clube dos Cabiras - O clube dos Cabiras, ora sob a ação da nova diretoria, vem, cada vez mais, ampliando suas atividades nos setores esportivo e social. Concretizando o programa traçado para mês corrente a agremiação da rua Conselheiro Josino promoverá, na manhã de hoje, em um pitoresco local da Gávea, um churrasco-dançante, sendo que antes serão realizados jogos de basquetebol, voleibol, além de provas de natação em uma praia próxima ao local da original festa. Um ônibus especialmente fretado, partirá do Hotel Leblon, às 8 horas da manhã, conduzindo a caravana de cabirenses ao recanto gaveano, escolhido para o churrasco." David acabou de ler esta nota. Provavelmente lembrou-se desta atividade e certamente sabe onde eu vou chegar.

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20 de dezembro de 1942: muita diversão durante o Holocausto

Em dezembro de 1942, já haviam sido trucidados à pauladas, golpes de barras de ferro, tiros, fogo, mortos pela fome, pelo frio e pelas doenças sem possibilidades de obter remédios, mais de 2 milhões de judeus na Europa, entre eles, muitos parentes dos judeus do Rio de Janeiro. Por anos os jornais vinham publicando o massacre de judeus e o extermínio de vilas inteiras. Poderiam ter pago uma nota de repúdio e apoio, mas nenhuma foi publicada de 1939 a 1945. Um churrasco-dançante naquele momento histórico é a demonstração de que a alienação dos problemas dos judeus que vemos hoje, havia ontem. Os filhos e netos seguem os pais.

Perguntei ao querido David o que os judeus faziam aqui durante do Holocausto ele inicialmente afirmou que não sabiam o que estava acontecendo. Confrontei-o com a informação de que tudo era publicado nos jornais, em português, quase que diariamente. E a comunidade lia? O discurso de David, muda: "Lamentava, provavelmente. O que você acha que faziam? Lamentavam entristecidamente o que faziam com os judeus. O que você acha que podiam fazer? Quando havia uma notícia mais contundente se lia no jornal e se discutia no clube e torcendo vivamente para que os soviéticos chegassem à Polônia e resolvessem a questão. Eu sentia muito e ficava revoltado com esta coisa. Mas quem é que não fica?"

As palestras sobre a temática da guerra que conhecemos hoje, são: "A questão racial no pós guerra" em agosto de 1943 pelo prof Artur Ramos, "A guerra de todas as raças"; em setembro de 1943 pelo ser Mario Martins; e "A ciência e o antissemitismo", em novembro de 1943 pelo emblemático Isaac Izecksohn. Em 1944 o Cabiras se incorpora à Liga de Defesa Nacional junto com outras dezenas de agremiações de jovens do Rio de Janeiro.

Clube da esquerda comunista, ou não?

O Cabiras tinha tendência esquerdista e teve problemas durante o Governo Vargas, exatamente quando foi fundado e cresceu. E David começou a nos explicar como isso funcionava. "Eu nunca tive cor política. Ah, são sionistas? Eu faço isso para eles. Ah, são comunistas, eu faço isso para eles. Para mim tanto faz um ou outro. Eu quero fazer o que eu gosto de fazer (teatro). Os sionistas são judeus, os esquerdistas são judeus, eu trabalho pros dois."

"O Clube dos Cabiras foi taxado como clube comunista, clube da esquerda. Alguns diretores é que levavam a coisa politicamente. Mas do ponto de vista social, associativo, ninguém sabia de nada. Tem baile? Tem. Tem conferência? Tem. Tem isso, tem aquilo. Não tinha uma mácula comunista em todas as atividades. Nunca!", afirmou David German e continua, "a cor que alguns comunistas da diretoria davam ao clube, não transparecia. Eu não vi nada. Eu não senti nada. Conheci até muitos sionistas. Todo baile que o clube dava, ia um tal de Zimmerman, judeu, da polícia, para fiscalizar. Para polícia nós éramos um clube comunista. O Zimmerman era designado para ver o que tinha de comunista nos bailes, mas não via nada. Eu conversava muito com ele, já faleceu, e era parente de meu cunhado. Eu passava perto dele e brincava: já viu alguma coisa ruim aí?"

Esther Libergot participou de nossa conversa e disse: "Havia muitos esquerdistas. Havia uma turma sionista que se preparava para ir para Israel e outra turma que ia ficar aqui. Nunca vi nenhuma ação comunista. Mas havia um sentimento." Ela conheceu o clube já depois da guerra na fase da rua Álvaro Alvim, foi na época em que ela entrou na universidade e havia um forte movimento estudantil stalinista que só acabou após o vigésimo congresso do Partido Comunista, quando ficou esclarecido para os jovens o que tinha havido de fato na União Soviética desde 1917, "toda aquela perseguição, toda a história do stalinismo, e aí a coisa mudou. O congresso comunista realmente impactou e houve um êxodo. As pessoas abandonam o comunismo. Esse pessoal que abandonou a ideologia decidiu formar uma comunidade melhor e partiram para criar a escola, o Eliezer Steimbarg. Vendo com uma perspectiva história os grandes autores, artistas e políticos que foram falar no Cabiras eram esquerdistas. Não me recordo de um sionista tendo ido falar lá. Era o outro lado do Colônia. Que simultaneamente atuava com muita intensidade, mas eu não sei, porque nunca fui. Mas todos frequentavam as festas do Cabiras."

"A juventude judaica era divida entre sionistas e progressistas. O Cabiras era o principal centro progressista. Havia reuniões conjuntas em que os grupos degladiavam-se. No Cabiras havia um grupo que levantava os braços a faziam a saudação à Stalin - Viva Stalin - e coisa e tal.", afirmou David. "99% dos sócios estavam pouco se lixando se os diretores eram esquerdistas ou não. Mas quem carregava o clube nas costas eram os comunistas." O clube admitia não-judeus como sócios, mas eram muito poucos, geralmente namorados e namoradas de sócios.

Para comemorar seus nove anos, o Cabiras se mudou e alugou o salão da sobreloja da Rua Álvaro Alvim, 24, onde viveria o período 1948-1955. Essa é a estória contada abertamente até hoje. Mas entrevistamos também o sr Isack Hazan, filho de Salomão Hazan z’l, fundador do Bené Herzl e seu presidente por muitos anos. Foi com Salomão que o Cabiras fez seu contrato de utilização da sede e foi Salomão Hazan que, em 1947, colocou o Cabiras para fora da Conselheiro Josino 14, devido às atividades comunistas de seus diretores que atraiam a atenção das autoridades de governo e da polícia.

Na Álvaro Alvim 24 o aluguel era mensal e o clube, por sua vez, sublocava seu salão para festas de outras associações e escolas. Antes, foi o salão de outra tradicional agremiação carioca, o "Clube dos 40." Uns dizem que embaixo havia um cinema, mas não conseguimos localizar cinema ou teatro algum com a aquele endereço.

Por que o Cabiras acabou?

Dissemos acima que o Cabiras foi um clube de jovens. E este é um dos motivos para ele ter acabado. Os jovens foram crescendo se inserindo em suas profissões, foram casando, tendo filhos e passaram a ser homens e mulheres: "deixaram de ser jovens e sócios do Cabiras."

Os diretores iniciais não tinham mais tempo para se dedicar ao clube e as novas lideranças do pós-guerra eram especificamente comunistas. As novas lideranças eram compostas por jovens inexperientes e compromisso com a esquerda é evidente pelo fato de boa parte das atividades do clube, a partir de 1946, passarem a ser publicadas no tabloide de esquerda 'Momento Feminino' e no jornal 'Tribuna Popular' que era praticamente o órgão de divulgação do Partido Comunista no Brasil.

Com a sede alugada na Rua Álvaro Alvim 24, o Cabiras montou uma grande biblioteca, inaugurada no dia 7 de maio de 1949, um sábado a noite e promoveu eventos para a doação de livros. No dia seguinte, dia 8 de maio, o Cabiras realizou uma seção solene, seguida de baile e muito chope para comemorar "O Dia da Vitória" e um ano da "Proclamação do Estado de Israel."

No pós-guerra, talvez uma das mais interessantes palestras tenha sido "O que eu vi no Oriente Médio", proferida pelo sr Edmar Morel em outubro de 1948. Em dezembro do mesmo ano, o Cabiras recebeu o senador Hamilton Nogueira para "O Brasil e o reconhecimento de Israel." Nota-se em sua agenda, exatamente o que David citou: a diretoria tinha o alinhamento político dela, mas realizaram vários eventos que poderiam ser considerados como sionistas, ou pelo menos de uma esquerda sionista, o que de fato existia naquele momento histórico.

Sabemos por uma troca de acusações entre sócio e presidente, publicada no Diário de Notícias em 24 de outubro de 1949, que o presidente do Cabiras naquele momento era o dr. Nissin Castiel. Outro nome que sobrou nas publicações de notas é o de Isaac Faerchtein, secretário em 1942. Também em 1942, enceram a peça e Machado de Assis, "Não Consulte Médico", com Liuba Vatinyck, Florinha Libman, Arlete Saraiva e Lea Monteiro de Barros, no teatro Ginástico.

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Da peça Grine Felder (Campos Verdes) restaram duas fotos. Nesta, temos David sentado de óculos, Liuba Koifman e Simão Schweid.

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Na segunda, temos, da direita para a esquerda: Dina Moscovitch, Schlesinger (ensaiador), Bela Josef, Simão Schwied (sentado), Liuba Koifman, David German e Jaime Libergot (de pé). Atrás deles, as duas moças são as irmãs Golbenberg, Ruth e Frima, seguidas por Abrahão (com boné e barba) e um rapaz cujo nome se perdeu.

Numa nota publicada no Tirbuna Polular (22/jan/1945) podemos conhecer uma destas diretorias possivelmente "comunistas":

Presidente, dr Saul Chitmann; vice-pres, Francisco Schwartz; 1o sec, Jacob Crohmal; 2o sec, Joseph Alegua; 1o tes, dr Isaac Sterental; 2o tes, dr Jaime Grossman; dir social, Saul Steinschnaider; dir cultural, Bella Karacuchansky e dir esportivo, José Segal.

Como de tantos outros judeus, o sobrenome German também é um sobrenome que não existia. O pai de David, Haim Leib, veio da Rússia em 1914, e na imigração, com o sotaque deu o sobrenome Herman e ficou a cargo do oficial brasileiro declara-lo German e ele aceitar, também sem entender direito ou conhecer nosso alfabeto não cirílico. O pai da Esther Libergot foi soldado do exército russo por três anos na Primeira Guerra Mundial.

Mais uma vez conseguimos efetuar o resgate de outra entidade judaica importante em nossa história, mas que havia se transformado em “duas linhas” nos livros sobre a história dos judeus no Rio de Janeiro e esperamos que outras testemunhas de época nos procurem.

© José Roitberg - jornalista e pesquisador - Editora Menorah Ltda - 2014

quinta-feira, 27 de março de 2014

Placa de vídeo NVIDIA GTX 650 TI BOOST

Algumas coisas que vc precisa saber. Em primeiro lugar trata-se de um equipamento excelente para quem trabalha com edição de vídeo a um custo mediano, entre 550 e 650 reais, no momento da redação deste texto, e variando muito com o dólar do dia. Nos EUA custa entre 120 e 140 dólares apenas. Não vou falar aqui do uso para vídeo games.

É uma placa voltada para o mercado de jogos, mas desempenha otimamente na edição de vídeo.

É claro que placas da família “700” e superiores são melhores e mais rápidas, mas para a mais básica delas, o valor da compra já triplica. A sugestão é sempre a mesma: compre a mais avançada que seu bolso suportar. Indo para a faixa em torno dos 900 reais vc deve comprar a GTX 670 que é consideravelmente superior

Há uma listagem completa com dados muito técnicos e o número de CUDA Cores de todas as placas da série 600, aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/GeForce_600_Series

Existe uma diferença técnica muito grande entre os modelos 650, 650 TI e 650 TI Boost. Muda a arquitetura interna (a TI Boost é Kepler - como as placas QUADRO), muda o número de CUDA CORES (a TI Boost tem 768, o dobro da placa 650 “normal” que tem 384). CUDA Cores são os processadores de vídeo lá na placa. Se seu computador i7 tem 8 núcleos na CPU, esta placa tem 768. Se vc é novato na questão e nem consegue compreender como isto é possível, saiba que quase ninguém mais consegue também. As placas mais caras já possuem mais de 2.500 CUDA Cores aumentando o desempenho e incompreensão.

Neste link há uma lista das placas NVIDIA GEFORCE com arquitetura Kepler.

http://www.geforce.com/landing-page/graphics-cards-with-kepler-architecture

Por questão de preço, optei pelo modelo com apenas 1GB de DDR5, sendo encontrado no mercado o com 2GB. Outras placas de séries superiores podem ter até 8GB de DDR5. Há especiliastas que afirmam que mais memória na placa de vídeo significa mais velocidade de processamento e é mais desejável que mais CUDA Cores. Outros afirmam que mais CUDAs é melhor. Vc precisa escolher em quem quer confiar. Mas se comprar mais CUDAs e mais memória, não vai ter erro.

A 650 TI BOOST é o que os especialistas (coisa que eu não sou, eu sou usuário e tenho uma abordagem não técnica) recomendam como mínimo para editar em full hd obtendo uma velocidade de renderação boa. Vai trabalhar com 4K, mas aí fica mais lenta. Para full hd vc deve ir para placas superiores e para 4K mais ainda.

Na minha escolha tentei entender a diferença entre a família de chipset Quadro (comprada quase sem pensar por quem edita) e GTX. Li muito a respeito e descobri que a Quadro mínima recomendada para uso com Adobe Premiere CS6 Pro é da série 6000. Uma passada pelo mercado brasileira nos permite descobrir que estão nos empurrando séries 400, 500 e 600, todas com apenas algumas dezenas de CUDA Cores, totalmente ultrapassadas e afirmadamente (pela Adobe) não suportadas pela versão CS6. Mas o que tem de gente ainda aos trancos e barrancos com Premiere CS4 não é brincadeira. A estes, aviso que a versão CS 5.5 modificou radicalmente o programa, principalmente para Windows 64 bits e se vc não está com ela ou com a 6, está ERRADO e perdendo tempo e paciência. Aviso: os seus plugins da versão 4 e 5 não vão funcionar com a 5.5 e 6 (tenha certeza de que é assim). Entendi que há uma intenção dos fabricantes de plugins em vender novamente o que já lhe venderam, mas os preços estão baixando bem, vc compra direto pela internet, a maioria deles permite baixar versões de teste e vc pode comprar apenas os efeitos e transições individuais que quiser e não os pacotes todos, na maioria das vezes por cerca de 10 reais cada efeito ou transição. Então, não há desculpa para não comprar.

A MONTAGEM E INSTALAÇÃO

Antes da espetar sua placa nova, remova o driver de vídeo anterior, ainda mais se for um Catalyst da Radeon. O driver padrão do Windows assume durante a instalação sem maiores de dificuldades. Se vc estava acostumado com placas que davam o “boot” já pelos dois monitores, esta só assume os outros monitores após o driver entrar no Windows.

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Comprei uma Gigabyte (acima), já que minha placa mãe é da mesma marca. A GTX 650 TI BOOST é ENORME, com dois coolers com rolamentos totalmente silenciosos. Encaixou de forma suave na placa mãe (slot PCI 3.0) e vem com cabo de alimentação de força. Estou usando uma fonte de 600 watts reais e não tive nenhum problema com a placa que em desempenho máximo pode consumir 450 watts. Este dado vem na documentação, mas os testes independentes na web apontam para 79 watts em “repouso” e apenas 231 watts em esforço máximo

Segundo o vendedor, eu não deveria instalar os divers que vinham no disco, mas deixar o Windows buscar os mais recente. O sistema fez isso com simplicidade e suavidade. Depois da instalação pelo Windows, o driver assumiu e já me apresentou a opção de baixar um driver mais recente direto do fabricante com opção em português. Tudo rápido e suave. Me foi recomendado baixar também o NVIDIA GEFORCE EXPERIENCE que parece se tratar de um controlador adaptativo que encontra todos os seus jogos e programas e aplica as configurações internas da placa mais eficientes para cada um. Isto está funcionando, mas explico mais abaixo.

Cada fabricante possui um encapsulamento e um sistema de resfriamento diferente. Você pode conectar duas placas (o cabo não vem junto). Aliás, todos os terminais da placa vem com tampinhas plásticas muito interessantes. Lembre-se que o consumo elétrico será dobrado.

conectando duas 650

O fabricante afirma que se pode usar 4 monitores, pois há 4 saídas traseiras. Isto não é verdade. O vendedor me alertou que não se pode usar as duas DVIs, pois elas são uma só com pinagens diferentes e montadas em paralelo (da para ver isso). Assim, use a DIV que tem aqueles 4 furinhos a mais junto ao pino posicionador, pois este tipo de DVI lhe dá sinal digital e analógico, enquanto a outra só dá analógico. Use um cabo DVI-HDMI e seu monitor recebe sinal digital. Conecte o outro monitor como HDMI-HDMI e tudo é identificado automaticamente. O terceiro monitor é para ser conectado com um “display port” e juro para você que nenhuma loja que vende cabos faz ideia do que seja. Parece que no Brasil ainda não há cabos display port ou conversores. Assim, se você precisar de dois monitores + um aparelho de TV, aí não sei como fazer. Há amigos que, devido a esta dificuldade em várias das placas muito modernas, passaram para um monitor de 24 polegadas para edição e uma TV HDMI para a saída da imagem. Mas com a 650 TI Boost vc tem saídas apenas em 1920 x 1080 para o computador. Outras placas superiores vão a mais de 2500 pixels o que dá uma folga para editar. Eu acho terrível editar tudo em uma tela de 1920. Tem gente que usa notebook, então é questão de preferência e costume.

E A VELOCIDADE? É MUITO SUPERIOR MESMO?

Eu utilizava desde 2012 um placa ATI RADEON com 1 GB DDR3 apenas 58 cores (OPEN CL e não CUDA). Basicamente editava com o Sony Vegas do 10 ao 12, deixando ao Adobe Premiere só a função de chroma key, por que neste ela é perfeita, enquanto no Vegas tão ruim quanto sempre foi da versão 5 do Premiere para baixo. Eu não editava um programa inteiro de TV no Premiere, devido ao tempo enorme de renderação. O Sony Vegas “entende” o sistema OPEN CL, mas não entende o CUDA (agora eu já sei). Portanto, se você utilizar Sony Vegas, vai jogar dinheiro fora em placas CUDA e deve ir fundo nas placas OPEN CL.

Existem especialistas que afirmam que as ATI RADEON OPEN CL são mais velozes para trabalhar no formato MPG2, mas como o OPEN CL não funciona no Adobe, então não vale nada se vc for usuário do programa.

Já o Premiere não enxerga a aceleração OPEN CL e faz todo o processamento pela CPU do computador. Mas a instalação de uma placa CUDA não garante que o Premiere vai enxergá-la. Incompreensivelmente (dito em todas as FAQs) a Adobe criou um sistema de fato idiota que exige que o “nome” de sua placa esteja numa linha de um arquivinho de texto vagabundo. Se não estiver, o Premiere não reconhece a placa e não habilita a aceleração gráfica. O uso da CPU para renderar pode chegar aos 98% no CS6 e aos 80% no CS5.5 sem que vc possa controlar isso. Ou seja, o computador fica quase impraticável para você usar outros aplicativos.

Apenas com o tutorial abaixo e a instalação automática proposta pelo autor, o Premiere irá reconhecer a placa e ativar o Mercury (que é o módulo acelerador do Premiere). Sugiro passar o link para todos os que comprarem qualquer destas placas NVDIA para edição de vídeo. Tem gente que não sabe disso e vai usar apenas as DDR5 e achar que ficou bem mais rápido e fica mesmo.

http://www.studio1productions.com/Articles/PremiereCS5-2.htm

O Mercury é ativado em PROJECT / PROJECT SETTINGS / GENERAL


mercury adobe


NO SONY VEGAS 12

Não houve qualquer ganho de velocidade, nem ao menos pela troca de 1 GB de DDR3 por 1 GB de DDR5. Foi decepcionante. Achei que ia virar um foguete. A atuação na edição, scrub de timeline ficaram mais velozes, mas a renderação continuou a mesma, indicando que nos encapsulamentos AVI é feita pela CPU do computador.

Apenas quando você quer salvar para um dos formatos MPEG4 é que existe a possibilidade, nas propriedades, de optar por renderação pela CPU, ou por OPEN CL ou por CUDA, se estiverem presentes. A renderação por CUDA nesta placa que é muito superior à OPEN CL anterior não ganhou nada em velocidade.

A Sony parece que não sabe alguns dos macetes. E como a base instalada de Vegas cresce assustadoramente no Brasil é bom saber o que funciona e o que não funciona com ele.

NO ADOBE PREMIERE 6

Resumo: virou um foguete! Para ter uma ideia, uma renderação em 1440 x 1080 com aplicação de fundo chroma key e aquelas correções básicas de cor de pele e preto levava 1h50m para um take de 60m. Agora leva 30 minutos, incluindo mudança de formato de MPG2 para AVI-DV em 720 x 480. Daí, dá para perceber o salto que se dá e com um suo de apenas uns 30% da CPU do computador.

O fechamento de um programa de TV de uma hora, com inserção de comerciais em diversos formatos originais e algumas transições, sem mudança de formato entre NTSC DV e sai NTSC DV caiu para irrisórios 6 minutos, numa taxa surpreendente de 10:1.

Renderações de umas 120 transições e fades na timeline (apertanto ENTER) levam uns 15 ou 20 segundos apenas. Este tipo de relato é mais objetivo que comparativo de barrinhas coloridas ou contagem de flops ou de qualquer coisa especificamente técnica.

Fiz um teste com um clip de 55 segundos em NTSC DV no qual alterei profundamente brilho e contraste, tornando a imagem inútil. Sabemos que são dois controles que demandam tempo na renderação. Como vc pode ligar ou desligar o Mercury, com ele desativado, só se garantindo nas DDR5 e CPU a renderação levou 13 segundos o que já é um desempenho espetacular. Com o Mercury ativado, levou apenas 4 segundos !!!

Portanto se você é usuário de PC e Adobe Premiere CS5.5 ou CS6 essa placa irá lhe poupar um tempo precioso. Abre-se um novo universo de possibilidades para inclusão de mais efeitos, mais correções, mais aprimoramento de vídeo e áudio.

ÍNDICE DE EXPERIÊNCIA DO WINDOWS 7

Como vc pode ver pelas imagens, o índice que era alto para jogos, mas não para elementos gráficos com a placa ATI Radeon Open CL, saltou para a classificação máxima com a NVIDIA 650 TI BOOST.

TAXAS DO COMPUTADOR ANTES DA 650 E DO SSD

TAXAS DO COMPUTADOR DEPOIS DA 650 E DO SSD

Espero ter sido útil para alguém.

© José Roitberg - jornalista e pesquisador - 2014

quarta-feira, 26 de março de 2014

Judeu falecido em 1914 em cemitério de 1920

Em nossa última visita de pesquisa nos Cemitérios da Chevra Kadisha - RJ para levantarmos o que ainda é possível de sua história (sai na Menorah deste mês que está chegando da gráfica hoje) nos deparamos com um túmulo datado de 1914, enquanto o cemitério de Vila Rosali Velho  foi fundado em 1920 apenas.

COLUNA ZÉVILA ROSALI VELHO 1914f oto de José Roitberg_1

Trata-se de Pinchos Aisin z'l nascido em Lugausk (Lugansk - então Rússia e hoje Ucrânia) falecido em Barretos, interior de São Paulo. Foi trasladado de lá pela família dele. Felizmente, trouxeram a placa original, o que é pouco comum.

Trata-se do pai d Adolfo Aizen que construiu a fantástica empresa EBAL de revistas em quadrinhos no Rio de Janeiro.

Assim, imagino que haja outras pessoas nesta situação e temos falecidos mais antigos que o próprio cemitério. É uma curiosidade. Só podemos saber, indo lá e verificando cada sepultura. São umas 8.000 - só quando estiver nevando...
No cemitério de Vila Rosali Novo, há um forte movimento de reforma de monumentos (matzeivot), com a construção de modelos modernos em lugar dos antigos, infelizmente, com isso, destruindo mais um pouco a história. Mas acato o direito de cada família fazer o que julgar mais correto pelos seus.
© José Roitberg - jornalista e pesquisador - 2014

Centenário do Templo Sidon: Histórias e tradições

Assista a bela matéria do programa Comunidade na TV, da FIERJ sobre este tema que é mais um daqueles do Rio Judeu Que O Povo Esqueceu.
http://youtu.be/-rRrUFFdVMk?t=1m9s

domingo, 23 de março de 2014

Atos Terroristas no Brasil de 1964 a 1969

CINCO ANOS DE TERROR

Reportagem de Luiz Carlos Sarmento

Publicado pelo Correio da Manhã de domingo, 6 de abril de 1969
(gramática da época)

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(nota de março de 2014: é preciso que se entenda a lista abaixo com a perspectiva do momento em que ela foi publicada. É um documento precioso da guerra terrorista que se travou no Brasil entre os movimentos comunistas e os movimentos anticomunistas. Os dois lados não possuíam comando único. Cada grupo agia como pudesse ou achasse necessário. Ambos lados tinham como característica, não assumir a autoria dos atentados, dificultando as investigações. Alguns dos ataques abaixo só foram vinculados a este ou aquele grupo, décadas depois, já no período da abertura política. A maior parte dos alvos era composta por trabalhadores e estudantes, mulheres e crianças, e a mídia. Qualquer coisa que tivesse uma ligação com os Estados Unidos, mesmo que apenas pelo nome, era alvo legítimo para a esquerda e locais onde estudantes comunistas se reuniam era alvo legítimo para os estudantes de direita. A maior parte dos explosivos citados como roubados na matéria abaixo, junto com o armamento roubado pelo capitão Lamarca e seus comparsas, foi utilizado, posteriormente ao longo do tempo. É preciso também compreender que não foram publicadas fotos de praticamente nenhuma das ações abaixo, devido à censura, mesmo a partir do início de 1964, muito tempo antes da censura oficial se instalar. As matérias completas sobre cada ação podem ser lidas nos jornais dos dias seguintes aos fatos. Esta lista não contempla roubos, assaltos, sequestros e assassinatos. A Comissão da Verdade não vai nem chegar perto destes assuntos…)

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Uma criança cega e outras quatro mutiladas. Um soldado morto e uma empregadinha doméstica com o rosto irreconhecível. Dezenas de pessoas que trazem, no corpo a “marca do terrorismo”, para não falar naquelas que perderam a vida. Jornais, escolas, teatros, casas comerciais e prédios do Governo destruídos. Eis o saldo trágico dos 144 atos de terror praticados desde 64 até os primeiros dias de 69, passando pelos atentados contra um ministro de Estado (atual presidente da República) dos Guararapes, em Recife, em 1966, no Aeroporto e contra o CORREIO DA MANHÃ, nos fins do ano passado.

Milhares de prisões, investigações sumárias, severos inquéritos que prometiam "apurar com o máximo rigor” os atentados, trouxeram resultados absolutamente negativos no que concerne à autoria dos atos. A verdade é que — como acontece nas investigações que apuram os assaltos a bancos — há uma infinidade; de pessoas e entidades suspeitas de terem praticado atos de terror, mas nada de positivo que provasse a culpabilidade dessas pessoa ficou devidamente e “rigorosamente” apurado. A única coisa que a Nação sabe é que os fatos existiram e continuam existindo.

TFP (nota: Tradição Família e Propriedade), CCC (nota: Comando de Caça aos Comunistas), MAC (nota: Movimento Anticomunista), Manes, Marighela, João da Silva, Exército da Libertação Nacional, etc. não passam de nomes e siglas suspeitas na confusa colcha de retalhos das investigações.

Roubam-se dinamite e armas com a mesma facilidade que se assalta um banco. Atenta-se contra a vida de bancários como se atira uma bomba contra uma inocente empregada doméstica, como aconteceu no principio dêste ano, no cruzamento das ruas Voluntários da Pátria e Real Grandeza, quando Alzira de tal morreu com o corpo, esfacelado e com o rosto irreconhecível. lmpunemente.

Há, entretanto, oficialmente (podem existir outros que a Nação desconhece), nove órgãos dedicados à investigação, sobretudo de atividades políticas. Além de serviços menores, de segurança, que funcionam junto aos gabinetes aos governadores, e dos ministros civis e das Secretarias de Segurança, em cada Estado funcionam os seguintes órgãos zelando pela segurança dos povo: 1) Serviço Nacional de Informações (SNI); 2) Departamento de Polícia Federal (DPF) através do Serviço de Ordem Política e Social (SOPS); 3) Secretaria de Segurança através dos respectivos DOPS; 4) Serviço Secreto do Exército, que está ligado diretamente ao gabinete do ministro, com ramificações em cada uma das unidades militares; 5) Centro de Informações da, Marinha (CENIMAR); 6) Serviço Secreto do Corpo de Fuzileiros Navais, que funciona junto ao CENIMAR; 7) Serviço Secreto da Aeronáutica; 8) Serviço Secreto da Policia Militar; 9) Serviço Federal de Informações e Contra-Informações (SFIC) que funciona defronte da Embaixada dos Estados Unidos, na Avenida Presidente Wilson, na Guanabara, sendo, êste, órgão, pertencente do Conselho de Segurança Nacional.

Tais órgãos recebem verbas secretas e vultosas. Todavia, nenhum dêles deu uma satisfação ao Pais sôbre o andamento das investigações. Isto só leva a um caminho: dizer que as investigações e seus resultados estiveram todos êsses anos — e ainda continuam — na estaca zero.


ATENTADOS EM 64

2-3-64 — São Paulo — Uma banana de dinamite explode no Instituto Feminino de Educação e Cultura Judaica Beth Jacob, localizado na Alamêda Tietê, 255. Causou danos materiais. Não houve vitimas. (nota: note que este ataque ocorre em 2 de Março, portanto ainda 29 dias antes do Golpe Militar. Além da bomba na escola judaica feminina, atribuída a um grupo nazista, que em 1963 havia pixado suásticas nas portas de casas de judeus em São Paulo e atacadas as torres da Rádio Marconi AM, que dava cobertura às lutas da esquerda, naquele momento. No dia 13 de março dirigentes da "Aliança Contra o Anti-semitismo" atribuiram o ataque ao MAC e a um grupo obscuro chamado Quarteirão.)

19-7-64 — Guanabara — Uma bomba jogada pela madrugada contra as Mercearias Nacionais, em Pilares, fere o comerciante Antônio Monteiro.

21-10-64 — Guanabara — Explode uma bomba na Faculdade de Direito. Não houve feridos.

22-10-64 — Guanabara — Bomba no Cine Bruni, na Praia do Flamengo, mata uma pessoa, ou mais precisamente, o vigia.

1-12-64 — Estado do Rio — Explode o sistema de refrigeração do Cine São Bento, em Niterói. Polícia suspeita de ter sido ato terrorista; Antes, no dia 28 de novembro, houve uma tentativa, frustrada, de descarrilamento de um trem, em Sete Lagoas, Minas Gerais.


ATENTADOS EM 65

15-3-65 — Guanabara — Uma bomba relógio de brinquedo foi encontrada no Cine Ópera, na Praia de Botafogo. Estava marcada para “explodir” às 21 horas. Era de brinquedo.

1-4-65 — Guanabara — Uma bomba-relógio de verdade é encontrada no conjunto residencial do IAPI. Não chegou a explodir.

22-4-65 — São Paulo — Diversas instalações do jornal O Estado de São Paulo são destruídas por uma bomba-relógio. A bomba explodiu de madrugada. Não machucou ninguém.

18-5-65 — Guanabara — Nos jardins da Embaixada Americana é encontrada uma bomba contendo oito “bananas” de dinamite. O DOPS a recolheu.

22-9-65 — Guanabara — Duas bombas explodem na Sala dos Pregões da Bôlsa de Valôres, ferindo 10 pessoas.

29-9-65 — Minas Gerais — Explode uma bomba no DOPS de Belo Horizonte. Não houve feridos.

2-10-65— Guanabara — Duas bombas explodem na sede da OEA, na Praia do Flamengo. Vidraças arrebentadas e muitos danos materiais.

19-10-65— Guanabara — Duas bombas explodem na entrada principal do Clube Naval. Não houve vítimas.

10-65 — Mais três bombas explodiram durante o mês de novembro. A primeira delas, defronte a residência do sr. Juracy Magalhães, que por sinal estava em Brasília; a segunda, no 3.° andar do Ministério do Exército, e a terceira, no térreo do Ministério da Fazenda. Nenhuma delas fêz vitimas, causando, todavia, danos materiais.


ATENTADOS EM 66

5/3/66 — Guanabara - Dois funcionários do Departamento de Limpeza Urbana encontram na Rua Cândido Mendes, misturadas com o lixo, duas bombas tipo granada, que não chegaram a explodir.

31/4/66 - Pernambuco - Duas bombas explodem no Recife. A primeira na sede do DCT (feriu duas pessoas) e a segunda na residência do então comandante do IV Exército, general Damasceno Portugal.

13/6/66 — Minas Gerais — Atentado contra a sede do Instituto Brasil—Estados Unidos, de Belo Horizonte. Elementos não identificados jogaram gasolina no prédio, e em seguida atearam fogo. O IEEU ficou parcialmente destruído.

29/6/66 — Brasília, DF — Às 3h15min explodiu bomba na Casa Thomas Jefferson, causando sérios prejuízos.

25/7/66 — Pernambuco — Atentado contra o marechal Costa e Silva, no Aeroporto dos Guararapes. Bombas explodiram às 8h50min e estavam colocadas numa escarradeira, perto da entrada onde são descarregadas as bagagens. Resultado: dois mortos o almirante Nelson Gomes Fernandes e o jornalista Edson Régis, secretário de Administração do Governo pernambucano, e mais 13 feridos. Mais de 500 prisões são efetuadas. Quase na mesma hora do atentado do aeroporto, explodiram mais duas bombas uma contra a sede da União dos Estudantes de Pernambuco e outra contra a sede da USIS. No primeiro atentado duas pessoas saíram gravemente feridas.

2/8/66 — São Paulo — Uma bomba explode no banheiro do Cine Itajubá, em Santos, provocando pânico e danos materiais.

3/8/66 — Paraíba — Bomba explode no Colégio João Pessoa. Não houve vítimas.

4/8/66 — Guanabara — Pânico entre os funcionários do IPASE. Um telefonema anônimo dizia que uma bomba ia explodir no saguão da seção financeira, na Rua Pedro Lessa. O prédio foi evacuado às pressas. A Policia foi ao local e nada encontrou.

5/8/66 — Goiânia — Uma bomba explode na agência do Banco Mercantil de Minas Gerais, causando prejuízos materiais.

6/8/66 — Rio Grande do Sul — O governador recebe um telefonema anônimo ameaçador. O prédio iria pelos ares por causa de uma bomba. Imediatamente manda todos os funcionários do Govêrno para rua. Fecha o palácio e entrega as chaves à policia. Rebate falso.

7/9/66 — Guanabara — Uma bomba de fabricação caseira explode no 8.° andar do Ministério do Exército. Não houve vítimas.

8/10/66 — Guanabara - Outro alarme falso. Desta vez contra o Ministério da Educação. O prédio foi evacuado, houve pânico, mas a Policia nada encontrou.

12/10/66 — São Paulo — Desta vez foi pra valer: bomba explode nos fundos do Palácio dos Campos Elíseos, não chegando, porém, a produzir danos materiais. .


ATENTADOS EM 67

3/1/67 — São Paulo 7- Um defeito técnico numa bomba impediu que uma fábrica de pneus; localizada na Rua dos Prazeres 284, fôsse pelos ares. As bombas não chegaram a explodir. Técnicos disseram que elas eram de grande potência, embora da fabricação caseira. Foram encontradas por dois guardas da fábrica que logo comunicaram o fato ao DOPS.

10/3/67 — Guanabara — Desta vez a propalada bomba do MEC explodiu. Explodiu no 14.° andar, às 14 horas, pondo em pânico mais de dois mil funcionários. Era de grande potência, mas não causou vítimas. Apenas danos materiais.

13/3/67 — Guanabara — Outra bomba no MEC. Na mesma hora daquela que explodiu no dia 10. Desta vez o petardo foi colocado no 12.° andar, onde funcionava a Contabilidade da Campanha de Expansão do Ensino Comercial. Não houve vitimas.

17/3/67 — São Paulo — Explode uma bomba na Estação de Vila Matilde (ramal da Central do Brasil), causando apenas danos materiais.

21/3/67 — Guanabara — Material explosivo que estava dentro de uma garrafa que foi jogada na lixeira da Rua Jardim Botânico, 1.204, explodiu, ferindo gravemente o funcionário do DLU, Ozarias Moreira Sotero.

27/3/67 — São Paulo — Explode, bomba no Centro da Indústria Metalúrgica. Não houve vítimas.

3/5/67 — Guanabara — Duas crianças, Noel e Teresa, ficaram gravemente feridas ,uma delas mutilada, quando explodiu uma bomba na casa 352 da Estrada do Papagaio, em Jacarepaguá. O pai de uma das crianças, o operário Aloísio Leonardo Reis, encontrou o petardo na rua e resolveu levá-lo para casa. A bomba explodiu no banheiro. O operário também saiu ferido juntamente com sua mulher, dona Alice.

6/5/6T - São Paulo — Às 3h30min, bomba explode e destrói o Cartório da Paz e o Registro. Civil do 38° Subdistrito de Vila Maltide, localizado na Avenida Conde de Frontin, n.° 2.306. Não houve vítimas.

14/7/66 — Guanabara — Bomba de grande potência explode pela manhã na casa 56 da Rua Bamboré, em Del Castillo. Fêz duas vítimas. Uma delas, o menino José Antônio. Ficou cego.

1/8/67 — Guanabara — Explodem bombas nos escritórios do programa “Voluntários da Paz" na Praia do Russel. As bombas eram de fabricação caseira e estavam dentro de um saco azul e branco. Ruy Ribeiro esfacelou uma das mãos e as norte-americanas Helen Keln e Patrícia Yander ficaram gravemente feridas, com vários estilhaços nos corpos. Mais tarde soube-se que o sr. Ruy Ribeiro teve que amputar a mão.

4/8/67 — Guanabara—Minas Gerais — No Rio um alarma falso fêz; com que a sede do IBEU de Copacabana fôsse evacuada às pressas. Um telefonema anônimo dizia que uma bomba iria explodir às 16 horas. Em Belo Horizonte, a polícia apreendeu 17 bananas de dinamite na casa do pedreiro Antônio de Carvalho.

18/8/67 — Guanabara — Duas bombas explodiram na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A primeira, às 19h30min, e a segunda às 20h15min. Dois estudantes saíram feridos.

24/9/67 — Guanabara — Nos jardins do palacete do adido militar dos Estados Unidos, coronel Jerry Jay Hunt, no Leblon, explode uma bomba sem causar vítimas.

1/10/67 — Maceió — Quatro pessoas saíram feridas quando uma bomba explodiu no interior do Cinema São Luís. A bomba era de fabricação caseira.

22/10/67 — São Paulo — Cinco bombas explodiram em cinco cinemas de Ribeirão Preto, tôdas quase ao mesmo tempo. Os cines atingidos foram: Centenário, Pedro II, São Jorge, Suez e São Paulo. As bombas estavam “rotuladas” com as iniciais “SALN”.

Dezembro de 67 — Foi frustrado um assalto à Escola de Cadetes de Barbacena. A polícia descobriu que um grupo de estudantes terroristas pretendia proclamar a “República das Rosas". A correção de provas reteve oficiais e professôres na Escola. O fato só foi revelado em março de 68. Sete estudantes estavam envolvidos no inquérito, e em poder dêles foi encontrado todo o mapa da Escola dos Cadetes, na Serra do Prado.


ATENTADOS EM 68

19-3-68 — São Paulo — Duas bombas explodiram no Consulado norte-americano, ferindo gravemente Orlando Loveki, Fernando Varela e Edmundo Ribeiro Mendonça. Os feridos estavam num carro estacionado nas proximidades do Consulado quando se deu a explosão. Depois de medicados foram envolvidos como suspeitos, juntamente com dois outros estudantes.

10-4-68 — São Paulo — Bomba "Molotov" explode no QG ,da Fôrça Pública, na Praça Fernando Prestes. Causou um princípio de incêndio. Não houve vitimas.

14-4-68 — Pôrto Alegre — Bomba "Molotov" explode no Teatro Leopoldina, onde se exibia Juca Chaves, Também não houve vítimas.

15-4-68 — São Paulo — Bombas de dinamite do alto teor explosivo foram atiradas contra o Q_G do II Exército, a poucos metros do gabinete do então comandante, general Sizeno Sarmento. Os petardos estavam embrulhados em folhas de jornais. Feriram uma telefonista de uma loja vizinha e um rapaz que tentou apagar o pavio da bomba com um balde de água.

20-4-68 — São Paulo — Outra bomba de alto teor explosivo é jogada às 3h30min na portaria do jornal O Estado de São Paulo. Destruiu tôda a fachada do prédio. O porteiro Mário José Rodrigues saiu gravemente ferido. Os prédios vizinhos foram danificados pela explosão. A bomba arremessou longe um veículo que passava pelo local (ferindo também duas pessoas. A Sucursal do jornal O Globo, localizada no 19.° andar de um prédio defronte ao do Estadão, também sofreu danos.

21-4-68 — São Paulo — Uma bomba explode às 20h30min na residência do ex-procurador-geral do Estado, sr. Virgilio Malta Cardoso, na Avenida Rebouças, 3.143. Apenas à empregada estava em casa. Não houve feridos.. O presidente Costa e Silva diz ao governador Sodré que “as bombas são para derrubar o regime”.

22-4-68 — São Paulo — Telefonemas anônimos fazem evacuar o prédio da Assembléia Legislativa. Pânico é total entre deputados e funcionários. A mesma coisa aconteceu, à noite, no Hotel Nacional, em Brasília. Ambos os telefonemas diziam que “uma, bomba vai fazer o prédio voar pelos ares".

25-4-68 — Maranhão — O terror chega a São Luiz. O DCT local também recebe telefonemas ameaçadores. Não houve bombas.

1/5/68 — Guanabara — São presos o ex-ofidal búlgaro Nicola Dodoroff e o ex-estudante Pedro Mota Mendes. Revelaram que iam jogar bombas na Embaixada americana. Em poder dos presos foi encontrado o croquis da Embaixada.

6/5/68 — São Paulo — Um vigia do gabinete do, prefeito de São Paulo, no Ibirapuera, encontrou, às 22h45min, uma bomba de fabrico caseiro no gabinete do brigadeiro Faria Lima. A bomba não chegou a explodir e foi recolhida pelo DOPS.

6/5/68 — São Paulo — Explode bomba numa garagem de uma emprêsa de ônibus, nos arredores da Cidade. O vigia, sr. Miguel Don Pedro, disse que a bomba foi jogada por ocupantes de um “Volks” que tinha rumado, em seguida, para Garulhos. Não foi possível identificar a placa do carro.

7/5/68 — São Paulo — O funcionário Francisco Marques de Oliveira, encontra uma bomba enterrada perto de um bebedouro, no Parque do Estado, na Agua Funda. O petardo estava armado para explodir. Não explodiu. A Polícia Federal foi incumbida de apurar o caso.

8/5/68 — Pôrto Alegre — Carga de dinamite explode numa balsa que estava sôbre o Rio Turvo, entre Três Passos e Tenente Portela. Não causou vitimas. A Polícia suspeitou, na época, de um grupo do coronel Jefferson Cardin.

5/6/68 — Guanabara — Bomba explode no pátio do Colégio Pedro II, às 14 horas (Rua São Francisco Xavier). Feriu três meninas.

13/6/68 — São Paulo — É encontrada uma bomba-relógio junto a uma viatura da Policia que fazia ronda contra as manifestações da proibição da I Feira Paulista de Opinião, no Teatro Ruth Escobar. Na ocasião, foi preso o estudante Eduard Abramovay, de 19 anos.

20/6/68 - São Paulo — Duas bombas são jogadas contra a residência do industrial Eric Egan, no bairro de Vila Nova Conceição. O proprietário da casa estava nos Estados Unidos, mas os vizinhos disseram que, quem atirou as bombas, foram os ocupantes de um “Volks" vermelho.

26 e 27-6-68 — São Paulo — Dois carros metralharam o QG do II Exército, no Ibirapuera. Na noite do dia 26, uma camioneta carregando grande carga de dinamite explodiu de encontro ao muro do QG, causando a morte do soldado Mário Kozel Filho. Quatro pessoas ficaram feridas. Testemunhas disseram quer o motorista da camioneta desceu do veículo em movimento e pegou um Volks que já o esperava nas proximidades do Quartel. A Polícia desconfiava na época de que “os terroristas são os mesmos que em fins de 67 roubaram 250 bananas de dinamite da Fábrica Perua, em Cajamar. O roubo foi praticado por indivíduos vestidos com fardas do Exército.

28-6-68 — São Paulo — Meia tonelada de dinamite e 100 cargas montadas com espolêtas foram roubadas da pedreira Giovanolli, no km 15 da Rodovia Rapôso Tavares. A noite, uma bomba é jogada contra o Colégio Mackemzie e os rapazes que a jogaram, segundo as testemunhas, fugiram num Volks.

3.7.68— Guanabara — O menino Rubens, de sete anos, ficou com a mão esquerda mutilada e com uma perna esfacelada. Apanhou uma bomba que estava na Rua Washington Luís. Apanhou e a jogou no chão, ocasião em que ela explodiu. A Polícia fêz várias prisões, mas nada ficou apurado.

7.7.68— São Paulo — Quatro bombas explodiram simultaneamente: 1) à 1h30min na passagem de nível da Estação Engenheiro Goulart da Central do Brasil. Destruiu rêde elétrica e arrancou dormentes do leito; 2) a segunda bomba atingiu um pontilhão e um trem cargueiro da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí; 3) A terceira bomba, na Estação da Lapa, arrancou os dormentes da Estrada de Ferro Sorocabana; 4) A quarta bomba atingiu as vizinhanças dos oleodutos da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí em Utinga.

12-7-68 — São Paulo — Mais dois atentados contra trens. Duas bombas explodiram. A primeira, às 22h, no banheiro do trem prefixo “J-14”, da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, no pontilhão dia Alamêda Nothman. (Não houve vítimas). A segunda bomba explodiu às 23h30min com características idênticas à primeira, mas no trem prefixo “E-158”, da Central do Brasil, que se preparava para sair de Estação Rooservelt. Também não houve vítimas.

18-7-68 — Estado do Rio —Bomba explode no Colégio Santa Bernadete. O petardo estava no lavatório. Não houve vítimas.

22-7-68 — Guanabara — Foi encontrada uma bomba no 9o andar do edifício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). A bomba estava com o seguinte aviso: “Bomba do MAC. Da próxima vez vai explodir”

23-8-68 — Guanabara — Boatos levam o Inspetor Mário Borges à Escola, de Belas-Artes., Nada encontrou. Apenas o pânico dos alunos.

25-7-68 — São Paulo — Exército apreendeu 200 quilos de dinamite na Cidade de Aparecida.

28-7-68 — São Paulo — Bombas explodem nos jardins do palacete 212 da Rua Grajaú, no Sumaré, residência da milionária Elizabeth Chang Margareth. Na mesma rua, no n.° 172, morava o vice-cônsul dos Estados Unidos.

28-7-68 — São Paulo — É prêso ooperário Geocindo Oliveira Camargo, com 25 quilos de dinamite e 300 espolêtas. Estavam numa casa, em Perus.

5-8-68 — Guanabara e Brasília — Bomba explode no Teatro Gláucio Gil em Copacabana. Iam estrear Os Inconfidentes no dia seguinte. No mesmo dia, em Brasília, uma bomba de fabricação militar explode numa ponte da Estrada Paranoá, ferindo três pessoas.

11-8-68 — Niterói — Quartel do 4.o G Can sofre atentado. Um carro passa e atira contra sentinelas. Duas pessoas saem feridas.

18-8-68 — Guanabara — Bomba de fabricação caseira explode às 20h30min na Seção Comercial da Embaixada Soviética, na Rua Alice, causando danos materiais. Não houve feridos.

19-8-68 — São Paulo — Três bombas explodiram: no Largo General Osório, em frente ao DOPS, destruindo várias viaturas da polícia. A bomba estava dentro de um “Aero”. A segunda bomba foi na 15.a Vara Distrital do Forum de Santana e a terceira, na 5.a Vara do Forum da Lapa. Vários prédios vizinhos ficaram danificados, inclusive uma agência bancária.

3-9-68— São Paulo — Telefonema anônimo volta a assustar o pessoal da Assembléia Legislativa e outros órgãos do govêrno.

7-9-68 — Guanabara - Bomba explode num educandário, nas Laranjeiras, logo após a Parada da Independência.

16-9-68 — Guanabara — Bomba na Seção da Composição do Jornal dos Sports causa prejuízos materiais.

27-9-68 — Guanabara - Três bomba explodem. 1) Residência do coronel Jary Hunt, da Fôrça Aérea Norte-Americana, na Rua Visconde de Albuquerque 324; 2) Bomba (desta vez de verdade) na Escola Nacional de Belas-Artes; 3) Bomba no Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, na Praça dá República.

13-10-68 — Guanabara — Bomba de alto poder explosivo contra a Livraria Civilização Brasileira, na Rua Sete de Setembro. Quase destruiu um quarteirão inteiro. Todas ais vitrinas ficaram danificadas. A bomba atingiu cêrca de 200 firmas. (nota: a situação era tão confusa que alguns jornais acusam a esquerda e outros jornais acusam a direita. As fotos a devastação foram censuradas e não publicadas. O emblemático assassinato do capitão americano Charles Rodney Chandler havia ocorrido alguns dias antes.)

Diario da Noite (SP) 15-out-1968 ataque contra civilização braisieleira

18/10/68 — Minas Gerais - duas bombas em Belo Horizonte: uma contra a residência do delegado regional do Trabalho sr. Onésio Vicente de Sousa e outra contra a residência do interventor do Sindicato dos Metalúrgicos, sr. Humberto Pólo. Em ambos os atentados houve apenas danos, materiais.

19/10/68 — Estado do Rio — Dinamite destrói cartório de Registro Civil da localidade de Itaguaí.

23/10/68 — Guanabara — Um servente da Faculdade de Direito da UFRJ encontra “coquetéis gigantes” (nota: molotov), em dois galões de cinco litros, prontos para explodir.

24/10/68 — Guanabara — Polícia apreendeu 50 bananas de dinamite na casa de Lúcio Costa Menezes, em Jacarepaguá.

27/10/68 -São Paulo — Bomba explode na Sears (nota: loja de departamentos de matriz norte-americana) do bairro de Água Branca/ Prejuízos materiais.

31/10/68 — São Paulo — É encontrada na Rua Paim uma bomba feita com material exclusivo das Fôrças Armadas. Exército apura.

1/11/68 — Guanabara — Bomba contra a Livraria Forense, na Rua Erasmo Braga, no Castelo.

7/11/68 — Guanabara — Bomba contra o depósito do Jornal do Brasil, num subúrbio carioca.

10/11/68 — São Paulo — Bomba explode numa usina de asfalto, em São Bernardo do Campo. Um trabalhador perde um braço.

26/11/68 — São Paulo — Duas bombas explodem no Parque da IV Zona Aérea, pouco depois das 19 horas. A polícia começa a caçar Mariguela.

27/11/68 — Estado do Rio — Explode bomba na casa do ex-prefeito de Nova Iguaçu, Antônio Joaquim Machado, na Rua Brás Júnior, 1.606.

1/12/68 — Estado do Rio — Novamente atentado contra cartório de Registro Civil de Itaguaí. Dinamites destroem mais uma vez o prédio.

2/12/68 — São Paulo - Volta o terror à Assembléia Legislativa, com falsas ameaças pelo telefone.

8/12/68 — Guanabara — O CCC (nota: Comando de Caça aos Comunistas) após sucessiva ameaças explode bomba às 2 da manhã no Teatro de Arena do Grupo Opinião, em Copacabana, atingindo ainda 12 lojas do Super Shopping Center, da Rui Siqueira Campos.

7/12/68 — Guanabara — Uma bomba de alto poder explosivo é colocada pela madrugada na agência do CORREIO DA MANHA, no Edifício Marquês do Herval, destruindo as instalações, causando prejuízos calculados inicialmente em NCr$ 300 mil. O deslocamento de ar provocado pela bomba arrebentou vidraças de lojas e escritórios nos 10 primeiros andares do prédio. Na agência, abriu uma cratera de mais de um metro de diâmetro, pondo os ferros da laje & mostra. Arrebentou ainda as esquadrias de alumínio, o mármore das paredes, o sistema de refrigeração e sua casa de máquinas. Todo o mobiliário foi danificado. A livraria, que funcionava no mesmo local, teve as suas vitrinas totalmente destruídas. O operário Edmundo dos Santos saiu gravemente ferido. A explosão foi ouvida num raio de mais de 500 metros.

Minutos antes, uma outra bomba explodiu na Faculdade de Ciências Medicas da UEG (nota: Universidade do Estado da Guanabara), destruindo a biblioteca e parte do Diretório Acadêmico, na Avenida 28 de Setembro.

28/12/68 — São Paulo — Trinta homens, fortemente armados, invadiram uma pedreira situada no Município de Mogi das Cruzes e roubaram 520 quilos de dinamite. Fugiram em sete carros que os aguardavam com os motores ligados. Não deixaram pista.


ATENTADOS EM 69

4-1-09— Guanabara — Bomba contra a viatura 6-210 da 4.a DP quando ela estava estacionada defronte da Delegacia, na Praça da República. Mais duas viaturas da Polícia foram atingidas por uma outra bomba Jogada nas proximidades da Delegacia de Defraudações, na Avenida Presidente Vargas. As bombas foram Identificadas como Geleps-piquete, da Fábrica Presidente Vargas, do Ministério do Exército. Setes fatos aconteceram pela madrugada. Ao amanhecer, foi encontrado no Leblotn um Jipe chapa GO 51-40-72 — com diversas bananas de dinamite. Estava abandonado.

7-1.69 — Guanabara — Três bombas explodiram em diferentes pontos da Cidade, matando uma mulher — Alzira de tal —, ferindo quatro pessoa e causando damos. A primeira bomba explodiu às 22h30min debaixo de uma viatura da Polícia, estacionada à porta da 9.a DP. Saíram feridos Geralda Leonardo Pereira de Almeida e Blume Moreira. A segunda bomba, explodiu pouco antes de meia-nolte nas esquinas das Ruas Real Grandeza e Voluntários da Pátria. Os estilhaços atingiram a empregada doméstica Alzira de tal, que morreu no HMC, quatro automóveis e ainda janelas de edifícios da redondeza. Mela hora depois explodia a terceira bomba, na Av. Ataulfo de Paiva, em Ipanema. As bombas eram Geleps-piquete.

14-1-69 — Guanabara — Quatro homens, durante a noite atiram do interior de um Volks azul uma bomba de fabricação caseira contra a porta da loja Curiosidades Charles, na Avenida Rio Branco, 11, causando danos materiais. Fugiram, tomando a direção da Avenida Rodrigues Alves.

26 e 27-1-69 — São Paulo — Sete atentados a bomba ocorreram na capital paulista, causando prejuízos materiais. A primeira explosão ocorreu no saguão dos Diários Associados, onde o Exército estava realizando uma exposição de material subversivo; a segunda explodiu na fábrica de automóveis Ford, em Vila Prudente; a terceira, na Sotema SA., na Rua Antártica; a quarta, nas instalações da Light, no bairro do Tatuapé; a quinta, na Ibelga, Rua Amador Bueno; a sexta, na Burroughs, também, na Amador Bueno; e a sétima bomba, num laboratório de produtos químicos, na Rua Treze de Maio, 50, na Boa Vista.

1-69 — São Paulo - O Exército procura o capitão Carlos Lamarca, acusado de ter roubado grande quantidade de armas pertencentes às Fôrças Armadas. Várias prisões são feitas.

© José Roitberg - Jornalista e Pesquisador 2014

segunda-feira, 10 de março de 2014

Sinagoga Beith Aron: erguida pelo idealismo


O Rio Judeu que o Povo Esqueceu

Fundada há vinte e cinco anos na rua Machado de Assis (em 1962), e há doze anos funcionando na rua Gago Coutinho, no Largo do Machado, a Sinagoga Beith Aron é fruto do idealismo e dedicação de um grupo de judeus ortodoxos de origem ashkenazi. Em vias de contratar um novo rabino e ampliar suas instalações, a Sinagoga quer trazer os jovens para participarem da tradição judaica e dar continuidade a esta congregação.

Rua Gago Coutinho 63 - Beith Aron fundada em 1962 inaugurada em 1974
Rua Gago Coutinho 63, inaugurada em 1974
                                              
A LUTA POR UMA SEDE PRÓPRIA

Um sobrado alugado na rua Machado de Assis: esse foi, durante muito tempo, o primeiro endereço da Sinagoga Beith Aron. Despejada deste sobrado, a Sinagoga alugou um salão na rua Marques de Abrantes.
Mas as dificuldades não pararam aí. Com muito custo, e com a ajuda dos membros da congregação e da Chevra Kadisha, conseguia-se o dinheiro para pagar o aluguel. Nessa época é que surgiu o idealismo de se construir a Sinagoga no atual endereço.
Pessoas como Chaim Wajnberg, Szaja Kandelman, Pinchas Sztajman, Lejzer Fridman, Hendel Griner e Ovsia Wajnstajn, entre outros, contribuíram de forma decisiva para a construção da nova sede. Pinchas Sztajman deu a contribuição inicial para a compra do terreno, e se encarregou de financiar o término da construção.
A Sinagoga retribuiu tanta dedicação dando o seu nome ao salão de festas, e ao salão de rezas das mulheres foi dado o nome de sua esposa. Depois de muita luta, e com a ajuda da comunidade judaica, foi inaugurada em 15 de setembro de 1974, véspera de Rosh Hashaná, a nova sede, na rua Gago Coutinho, 63.
Desde o início da Beith Aron, o Rapino Torenheim foi o líder espiritual da congregação, até três anos atrás (1984), quando fez aliá para Israel. Também durante todo esse tempo, o sr. Chaskiel Miernik foi o balkoré da Sinagoga, até hoje, com sua voz privilegiada, apesar de sua idade. E até hoje, a Sinagoga Beith Aron mantém diariamente um mini am, de manhã e tarde.
NOVO RABINO, NOVA ADMINISTRAÇÃO
Apesar de estar localizada na segunda maior concentração judaica de Rio de Janeiro (Flamengo e Laranjeiras) (obs: em 1987), a Sinagoga tem apenas cerca de duzentos sócios. Em vias de contratar um novo rabino e negociar um terreno para ampliar suas instalações, a Sinagoga Beith Aron pretende dar um no impulso à sua administração. O novo rabino terá como objetivo principal incentivar uma maior freqüência jovens. Além disso, dará gratuitamente cursos para bar-mitzvá e terá um per do de atendimentos diários para responder perguntas e aconselhar todos aqueles que precisarem de uma assistência espiritual, independente de serem sócios da Sinagoga.
O sr. Samuel Wanderman é o Predente em exercício da Beith Aron. Nathan Argalji é o tesoureiro, Ovsia Wainstein, vice-tesoureiro, Miguel ner e Salomão Schor fazem parte Conselho Fiscal, Zelio Cleinman é Secretário e Chaskiel Miernik, Diret de Culto. Mas estão sendo convocadas novas eleições.

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Caros leitores, não se consegue obter outras informações sobre a Beith Aron em sua época de Machado de Assis e Marques de Abrantes, sequer a localização correta. Como ficou na Marques de Abrantes até setembro de 1974 deveria haver muitos frequentadores por aí, fotos de casamentos e bar-mitvá e de outras solenidades. Se alguém tiver material, nos procure para tornarmos público.

Há ainda um outro problema. Algumas pessoas garantem que o prédio abaixo, na Rua Machado de Assis foi uma sinagoga e teria sido a Beith Aron. Parece ter arquitetura similar a de sinagogas, com certeza não parece um sobrado e pior que isso, nunca ouvimos falar de outra sinagoga ali. Com certeza uma das testemunhas foi ao local abaixo para um brit-milá em 1969. Portanto, qualquer informação, será de grande valor.

Bet Aron endereço original Machado de Assis 23, hoje consulado do México
por Miguel Regen
José Roitberg - jornalista e historiador
© Revista Menorah 1987