domingo, 5 de janeiro de 2014

Osborne 1 o Pai dos Notebooks

Você já existia em 1981? Os microcomputadores já. Um dos mais impressionantes da época era o Osborne, portátil. Bastava fechar a tampa onde ficava o teclado e arrasta-lo para cima e para baixo. No centro do painel vemos uma tela de fósforo verde com 3 polegadas o que era similar ao HP da época. De cada lado, aquelas gavetas estranhas são duas unidades de disco flexível de 5 1/2 polegadas. Há várias grades de ventilação e conectores frontais para geek de 1981 ligar seus periféricos. Os conectores, são de padrões a muito falecidos: IEE 484 e RS-232C.

Os discos ainda eram de face simples e podiam armazenar 100 kb cada um. Não havia fisco rígido. A memória RAM era de espantosos 64 kb, o máximo para a época. Havia computadores IBM de médio porte que usavam unidades de memória de 4 kb do tamanho de uma geladeira atual - ainda ficariam anos em uso -, então 64 kb ali dentro era espantoso. A CPU era a famosa e esquecia Z80A, que 10 anos depois serviria apenas como controladora do teclado do PC da IBM.

O software era completo. Havia CP/M, sistema operacional e CBASIC-2 para programação; Mailmarge para montar e ordenar malas diretas; Supercalc, que nã é tão diferente assim do atual Excel (sua evolução) e Wordstar, um processador de textos espetacular, que ainda usamos, evoluído, como Word. Nenhum destes softwares eram da Microsoft. Essa máquina foi o sonho de consumo de milhões de pessoas que queriam um computador. Mas 1.795 dólares em 1981, dava para comprar carro zero nos EUA, um Maverick por exemplo.

Note como a indústria dos "notebooks", dos quais este foi o primeiro operacional, apesar de estar mais para um "filebook", estabeleceu um preço mágico que se mantém para as máquinas topo de linha, que são sempre lançadas pouco abaixo dos 2.000 dólares, não interessa o que venha dentro. É o que as pessoas estão satisfeitas em pagar.


Anúncio de lançamento do Osborne em 18 de maio de 1981

Mas eu não estou trazendo isso, só porque o anúncio é velho. Ocorre que é mais um avanço que os judeus deram ao mundo. Arthur Osborne (1939-2003) não era judeu e vendeu sua editora para a McGraw-Hill, em 1979, decidido a criar um computador barato e portátil, coisa que não existia e que continuaria não existindo por muitos anos depois do lançamento o Osborne 1. Contratou Lee Felsenstein (nascido em 1945), este sim o judeu dessa estória, que projetou a máquina. O pacote completo foi desenhado para caber debaixo de uma poltrona de avião.

Nos primeiros 8 meses, foram vendidas 11.000 unidades, o que rendeu a MicroPro International, a empresa que criou o Wordstar, 50.600 dólares (4.60 por cópia). Mais 50.000 máquinas foram encomendadas e tinham uma taxa de falha e não funcionamento elevada, de 10 a 15%, exigindo a troca, que era feita.
Durante meses a venda se manteve na faixa das 10.000 unidades por mês e a Osborne rapidamente passou de seus originais 2 funcionários, para 3.000, com um faturamento de 73 milhões de dólares nos primeiros 12 meses.

Em 1982, o Osborne 1 passou a rodar o banco de dados dBase II, hoje o Access e as vendas explodiram exigindo a produção de 500 unidades dia, o controle de qualidade diminuiu. E é exatamente quando a IBM entra no mercado com o PC que era mais veloz e mais avançado, mas não era portátil. A Compaq surge com um portátil totalmente compatível com o IBM PC.

Os estoques começaram a acumular e o preço caiu 500 dólares no final de 1982 e despencou para 995 dólares em julho de 1983, apenas dois anos após o lançamento. E a empresa faliu. Foi o primeiro grande aviso de que as coisas são velozes demais para cima e para baixo no mercado da microinformática pessoal e que não é possível criar um computador e passar a vende-lo indefinidamente. Ele tem que evoluir o tempo todo.

A micro informática tem história. Lee Felsenstein já tinha projetado e construído outro computador antes do Osborne e continuou na ativa. Em 2003, desenvolveu sistemas de telecomunicações para levar celulares e internet para aldeias remotos pelo mundo a fora, foi nomeado "Pioneer of the Electronic Frontier".

© José Roitberg 2014 - jornalista e historiador

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