sábado, 17 de abril de 2010

Um papinho sobre Scuds

Existem modelos básicos e variações. Ele é um míssil balístico desenvolvido a partir da V2 alemã da WW2 pelos soviéticos. Barato, seguro e inicialmente uma porcaria. Os modelos A tinham alcance de apenas 180 km e uma precisão de 3.000, ou seja, podia cair a 3 km do alvo que estava dentro da especificação técnica. Eram armas, como a V2 para aterrorizar e atacar cidades, não alvos específicos. Com uma ogiva de 950 kg, pode receber explosivo (o equivalente a um daqueles imensos caminhões bomba) e ogivas químicas ou nucleares. No caso da nuclear já vimos que um erro de até 3 km tá de bom tamanho.

Balístico no caso é: se calcula, se aponta, se lança, ele queima o combustível na subida e cai desligado na descida.

O modelo atual, o D, tem alcance de 300 km e sua precisão agora é de apenas 50 metros, e o C para 600 km e 700 metros, ou seja, se não for interceptado vai acertar o alvo se for a versão D. Mas para isso precisa de equipe treinada e não é como vimos na guerra contra o Hezbollah, um foguete que pode ser montado sobre qualquer caminhão ou picape, sair da garagem, lançar e se esconder.

O Scud possui um imenso veículo lançador próprio (foto em anexo do modelo B o da Síria), junto com isso precisa de um caminhão de combustível pois é abastecido antes do lançamento na posição vertical (super visível) e uma unidade de direcionamento de tiro. É algo complexo. Leva algum tempo para entrar em posição e atirar. Depois do disparo o caminhão lançador deve ser localizado e destruído pela aviação inimiga. Não lança um segundo míssil se houver supremacia aérea inimiga.

Vendo o tamanho da unidade de lançamento é meio estranho imaginar que caminhões destes possam ir da Síria para os Hezbolaquistão sem serem detectados, fotografado e até mesmo atacados pela aviação israelense. Se conseguiram passar, as medidas de vigilância de Israel estão péssimas.

O primeiro uso militar do Scud foi em 1973 na Guerra do Yom Kippur quando o Egito lançou uns 6 contra Israel. De lá para cá, centenas de Scuds já foram utilizados em conflitos, até pelos soviéticos no Afegnistão com maior ou menor sucesso. O caso mais impressionante é o da pouco estudada ou lembrada Guerra Irã-Iraque dos anos 1980 com 1 milhão de mortos. Em 1985 o Irã lançou Scuds atingindo Bagdá e Kirkuk. De 29 de fevereiro a 20 de abril de 1988 o Iraque de Saddan Hussein lançou 189 Suds de desenvolvimento próprio (os mesmos que depois seriam lançados contra Israel) conseguindo resultados impressionantes: 135 atingiram Teerã, 23 in Qom, 22 em Isfarram e outros em outras cidades. Foram 2.000 mortos e 6.000 feridos em números incorretos (provavelmente foram mais) e um quarto dos 10 milhões de habitantes de Teerã fugiu da cidade. Em resposta o Irã acertou 77 Scuds norte-coreanos em Bagdá e o número de vítimas nunca foi revelado. Nenhum dos dois países tinha real capacidade de força aérea nesta altura do conflito.

Entre outubro de 1988 e fevereiro de 1992 os soviéticos lançaram cerca de 2.000 Scuds dentro do Afeganistão, que foi a maior concentração de foguetes balísticos desde a WW2 e é claro que você não ouviu nenhum grupo de esquerda reclamando deste massacre e abuso soviético...

Na Guerra do Golfo (1991) os EUA, Israel e Arábia Saudita usaram mísseis antiaérea Patriot americanos para deter os Scuds. Quem tem idade lembra de assistir os ataques noturnos ao vivo pela CNN.


39 Scuds foram lançados contra Israel - Tel Aviv e Haifa destruindo 3.300 casas e apartamentos. Duas pessoas morreram nas explosões, quatro morreram sufocadas pelas suas máscaras contra gás colocadas de forma errada e um número impressionante de 66 pessoas morreu de ataques cardíacos perto das áreas atingidas.

Alguns Scuds explodiram, alguns tiveram suas ogivas afetadas que cairam sem explodir ou com explosões parciais. Por sorte nenhuma ogiva era química ou nuclear, pois aí o impacto do Patriot não fará diferença. E as baterias de Patriot ainda estão em Israel. Se não for uma bela de uma camuflagem a última que vi foi voltando de Naharia para Haifa, entre a estrada e o mar, virada para o Líbano toda enferrujada... Mas de lá para cá houve uma melhoria significativa nos sistemas anti-mísseis. O problema é saber se estão sempre em prontidão - o que é muito complicado - pois o ataque, se houver, será inesperado.

Durante a Primeira Guerra do Golfo, as forças americanas cumpriram 2.500 missões de busca e destruição de Scuds por ar e terra, tendo conseguido destruir apenas um! Dezenas de unidades falsas (caminhões velhos, lona e madeira) imitando lançadores foram destruídos...

José Roitberg - jornalista


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